quarta-feira, julho 26, 2006


Morre lentamente quem nao viaja,
quem nao le, quem nao ouve musica,
quem destroi o seu amor-proprio,
quem nao se deixa ajudar.

Morre lentamente quem se transforma em escravo do habito,
repetindo todos os dias o mesmo trajecto,
quem nao muda as marcas no supermercado,
nao arrisca vestir uma cor nova,
nao conversa com quem nao conhece.

Morre lentamente quem evita uma paixao,
quem prefere o "preto no branco" e os "pontos nos is"
a um turbilhao de emocoes indomaveis,
justamente as que resgatam brilho nos olhos,
sorrisos e solucos, coracao aos tropecos, sentimentos.

Morre lentamente quem nao vira a mesa quando esta infeliz no trabalho,
quem nao arrisca o certo pelo incerto atras de um sonho,
quem nao se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da ma sorte ou da
chuva incessante, desistindo de um projecto antes de inicia-lo,
nao perguntando sobre um assunto que desconhece e nao respondendo
quando lhe indagam o que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforco muito maior do que o simples acto de respirar.

Estejamos vivos, entao!

Pablo Neruda

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